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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

LIANE FLORES

 

Nasceu no Rio Grande do Sul, durante o carnaval de 1949.

 

FLORES, Liane.   A outra face.  Porto Alegre, RS: Editora Movimento, 1983.  80 p.  (Coleção Poesiasul)  Orelha do livro por Antônio Hohfeldt.   Capa: Liane Flores  
Bibl. Antonio Miranda, exemplar doado pelo livreiro Britto.
 

 

 

NO LUGAR DA LONA,
MILHÕES DE ESTRELAS

Como é gostosa
a sensação de renovar-se!
Sacudir pela janela da vida
velhos tormentos e saudades.
Soltar as suas feras
adormecidas,
para que abocanhem
a parte que lhes cabe.
Expulsar as suas bruxas...
expor, à luz do sol,
o corpo com nova pele,
a alma com nova face.

 

 

VOLÚPIA E FANTASIA

E quando o corpo sacia,
o coração pede mais
e a alma
o desejo anistia.

E quando a alma sacia,
o corpo, então, pede mais
e o coração
desafia.

E quando o coração sacia,
corpo e alma adormecem
na paz que este amor
anuncia.

 

 

AGRESTE

Quero o cheiro
da terra molhada
sob a chuva de verão.
Quero o cheiro
do mato selvagem
na mudança da estação.
Quero o cheiro
do orvalho na grama
e do luar o clarão.
Quero o cheiro
do corpo saciado
pelo fogo da paixão.

 

FLORES, Liane.  O grande ausente. Poesia. Capa: Telmo Lanes.  Porto Alegfre, RS: Editora Movimento,   102 p.  1980.   14 x 20 cm.
Ex, bibl. Antonio Miranda

 

 

FLASHES   

Uma tela,
em branco,
onde o pincel nunca tocou,
uma luz,
sem sombras,
sem brilho,
sem cor.

Uma folha,
em branco,
onde a pena nunca passou,
sem poesia,
sem mensagem,
sem música,
sem valor.

Uma árvore,
em branco,
onde um pássaro nunca pousou,
sem ninho,
sem folhas,
sem frutos,
sem flor.

Uma vida,
em branco,
onde o amor nunca chegou,
tão vazia,
sem sentido,
tão fria,
sem calor.

 

 

MUDEZ

Telefone,
quem te inventou
era um gênio ou um demônio?
Ele saberia
que, por causa,
tanta gente sofreria?
Toca, telefone!
Toca. Estou te ansiando
com quem anseia a própria vida.
E tu, aí, parado...
Por que não dizes nada?
Por que ficas calado?

 

 

INSURREIÇÃO

Eu cresci tão de repente
e quis abraçar a lua,
mas ando só pela rua
procurando um bom lugar.
Estou tão emergente
em bus do meu infinito.
Não quero mais ser carente,
quero o mundo que não tive
para sentir o meu peito
liberado de conflito.

 

 

LIBERDADE

Nos barracos de palha encardida,
sem suítes, banheiros ou porões,
sem tapetes, cortinas ou paredes
tens um mundo sem limitações.
Liberdade, esta ânsia incontida,
encontrada em cada canto das palhoças,
em um gancho, uma rede balançando,
sem cobertas pressionando tuas costas.
Liberdade, esta ânsia incontida,
contida na ausência do relógio,
jamais um sonho teu interrompido,
jamais uma inspiração te foge.
Liberdade, esta ânsia incontida,
te acenando pelas frestas do telhado,
lá em cima aquela estrela colorida
se oferece ao luar todo excitado.
Liberdade, esta ânsia incontida,
matas virgens sem estradas de rodagem,
tu caminhas pelos campos respirando
liberdade incontida que eu trago,
dos sapatos apertando os meus pés,
dos conceitos que conduzem minha vida,
dos ruídos que abafam minha voz.

 

 

Página ampliada e republicada em abril de 2021

*

 

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Página publicada em fevereiro de 2021


 

 

 
 
 
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